06 fevereiro 2011

do corpo ao abismo


aquela velha à janela
olha a rua da sua infância
chora ri e reza
a vida passou e a tristeza
ainda ontem foi criança
os braços cruzados os olhos sem brilho
os dias passados
família amor desgraça
alegria sem nada
restos guardados
levar tudo para longe
a porta do lado de cá de lá
espera espera


Luís Paulo Meireles
in auge do ritual
non nova sed nove, nazaré, outubro 1997

2 comentários:

  1. Wellitania Oliveira6.2.11

    "aquela velha à janela"... logo no primeiro verso, o poeta mostra a visão profundamente negativa em relação ao gênero humano e à evolução. "a rua de sua infância", o mundo, palco do processo evolutivo, visto como um lugar de perpétuos conflitos, sofrimentos, agonia e mágoa. "os braços cruzados os olhos sem brilho"...Essa condição aparece como algo necessário e incontornável. "a porta do lado de cá de lá" pode ser a saída para o retorno a um estado de paz perpétua que é o futuro de todo os seres.

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  2. Fabiano Donato Leite- Brasil8.2.11

    Qual velha surge neste texto? Será a velha civilização ocidental, para quem tudo passa como num espetáculo contemplado da janela? Será a falta de graça do cotidiano, que como um espectador, aguarda numa mansidão burguesa o transcorrer das horas até ao despenhadeiro? Ou será o próprio fluxo natural da vida, esse descontente suportar de horas que caminha rumo ao inadiável abismo? Deveras, é um poema rico e bastante significativo. Professor Fabiano Donato leite, Gurupi, Tocantins,

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