22 junho 2010

...
Nas manhãs claras, o rio corre ligeiramente inclinado para o teu lado, a harmonia do teu corpo cativa o caçador da floresta negra. depois de o ouvir bater contra o enigma que deixaras de controlar pela flauta,
bateram levemente as horas, ruíste por todos os lados,
e quando pensava poder abraçar-te a alma, reparo que nunca existira, pelo menos a que procuramos, nós, os índios de pedra...
se passares pela estátua do parque, e me vires debruçado sobre a espada, deixa-a partir porque poderei cair no engodo, embora as tuas pernas sejam irreconhecíveis na minha matéria, sem indícios de culpa, eu próprio cortei a carne, e decidi a que estava rançosa, não é que seja um lamento a que arquivei, mas pouco tempo passou sobre mim,
e os gatos no telhado miam agora deleitados com a febre, não o nego, parei em apeadeiros acolhedores,
pensando satisfazer a publicidade das minhas obras;
nesta caminhada, concluo que não estou só...só com a carne que Joana d'Arc deixou para mim,
gostei e por isso todos os caminhos me dizem teres parado em qualquer cruzamento, tão fácil,
uma cama de braços grandes e pernas de atleta,
plantada num cruzamento de febre...

Jorge Plácido
in non nova sed nove nº3, abril 92

Sem comentários:

Enviar um comentário