18 fevereiro 2011

náufrago

meter a cabeça dentro do poema
e ficar lá na cabeça do poema
o maior número de segundos
até ver se aconteceu se nada aconteceu
até tirar a cabeça do poema

tornar a meter o poema na cabeça
até perder a cabeça
possível
depois de meter o poema na cabeça
até ao infinito
que é tirar a cabeça ao poema
e anotar tudo o que o rodeia
até meter a cabeça dentro do poema

e ficar lá na cabeça do poema
o maior número de segundos
até ver qualquer coisa
que não aconteça
ao meter a cabeça dentro do poema

o poema mete a cabeça dentro do poema
e depois de segundos eternos diz
que a cabeça não tem nenhum poema
assim como este não tem nada na cabeça

o poema mete o tronco do poema
na cabeça e depois de segundos eternos
diz que a merda que tinha na cabeça
era o infinito do maior número
de membros possíveis
de embrulhar o corpo no poema

o poema mete os membros no tronco do finito
e depois de segundos de retorno
diz para meter a língua no poema
até ver e anotar o número de segundos
de cabeça no conhecido poema
que só tinha merda na cabeça

meter a cabeça dentro da cabeça
entre os membros do poema
até ao tronco da cabeça
e ficar aí os segundos permitidos
depois de sentir o que aconteceu
aos membros do poema
quando esmagam a cabeça

tornar a embrulhar os membros da cabeça
num poema sem pés nem cabeça
até ao tronco do número
que acontece qualquer coisa
que já não tenha acontecido
ao meter a cabeça dentro da cabeça

perder o poema por vir
e ficar por lá no cérebro do poema
que não se vem
no ventre entre os membros da cabeça
é ficar com ela dentro
do que a rodeia
e permanecer assim
no cérebro da cabeça
até acontecer
qualquer poema
que não aconteça


A. Dasilva O.
in non nova sed nove, dezembro 97

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