25 janeiro 2011

um rosto vasculha a noite à procura de crateras

o dorso da água está submerso
a lanterna ilumina as artérias do vazio

do fundo da renda surgem
laranjas apodrecidas pela água
os olhos não acreditam na vegetação

a terra treme
hoje a noite foi invadida

do núcleo da cratera expele-se 
saliva
 

o rosto solidificado pela corrente
exibe 

a presença dos líquenes

é este o retrato que encontro
quando vaza a maré da carne



m. parissy
in a pele da parede
non nova sed nove, nazaré, setembro 97

1 comentário:

  1. Wellitania Oliveira29.1.11

    Poema de forte carga cientificista; aparentemente, recebe multiplicidade de influências literárias, tornando difícil, se não impossível, sua classificação estilística e principalmente o desespero radical com que tematiza o "encontro com a maré da carne", a fatalidade, a morte, o apodrecimento inexorável do corpo, a visão da terra em seu processo irreversível de demolição de valores e sonhos humanos.

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