18 janeiro 2011

Não me mascares de alma e corpo
de água e tinta de um mar revolto


Amar-te assim mesmo envenenado
deambulando numa corda térrea, E cheiro
Queria a cor e o desmaio, E o menino, solto
Dançarmos nós e os bichos
num envolto coração de tanto chorar
Lá fora o céu é carne E um Éden distante
Poderíamos ficar por um momento



***

No fio de uma unha crescida em corpo mole
houve quem os visse em correria de formigueiro
E agora os noctígenos silêncios
quando as armas são secretas
orgulham-se envoltos em crisântemos
Transbordando para uma névoa de espuma solitária
os animais vidrados, caídos da glória


***

Os jardins são frescos E a tua alma errando
como queres que as mãos repousem em velhos lençóis?
Como queres que a virtude se encante e o murmúrio
                                            se enrole?
Os teus cabelos de fogo, os teus lábios feridos
Como queres a face e os testículos?
Como queres que te aproxime a agonia
quando venho do mar numa galé com um só marinheiro?
Posso levar-te a palavra, uma palavra de carne
os putos do mundo e as farsas nossas de viver




Augusto Oliveira Mendes
in non nova sed nove, abril 97

Sem comentários:

Enviar um comentário