20 dezembro 2010

textos d'ontem

lá fora o sol, aqui o ar é forçado, o sono, o cansaço, os olhos fechados, os joelhos dobrados e os braços descaídos, como numa visão angustiante do reflexo dos sentidos.


a verdade ainda não tem luz verde, louco dia a lutar em ser original, a euforia, um edifício, o escritório, os computadores, as secretárias, as coisas são todas necessárias, não funcionam porém, foram-se embora, ficaram restos, cheiros, sabões, ondas, fogo, cadastro, dinheiro, tudo junto, silêncio.

jovens e velhos do bairro apanham lixo para comer, não têm tostões nem frio nem nada, tantas carraças, aqui sem rumo nem destino, não existe pior que a miséria d'um homem sem brilho nos olhos.

o mar abraça o meu quarto, rodeado dum vento forte mas invisível, atrasado, rival ruína espontânea, azul, verde, preto côr d'ódio por digerir, os deuses, os minutos, o pensamento tenta acalmar nas águas do rio, do rio da minha infância.


Luís Paulo Meireles
in algemas d' aço
non nova sed nove, nazaré, janeiro 97

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