27 dezembro 2010

nazaré, 11 dez 85
faz-me acreditar nisto: a chuva leva-me numa condução perfeita ao enigma; bate no tecto do carro, bate-me nos dedos, infiltra-se na raiz do ar

barreiro, 2 abr 87
deixei o meu dedo na tua boca. entraste em mim pela tua água.

huelva, 4 abr 87
caiu uma linha sobre o meu sono. tenho o mundo ao lado do corpo. é a atmosfera do leito ingénuo.

v.n. milfontes, 15 set 95
há um jarro de flores secas em cima da mesa. folhas de um amarelo-torrado. fumo tabaco em papel de arroz. pelos dedos passa apenas aquilo que deixo sair. hoje é mais um dia azul, à noite apresento-me à luz.
das lâmpadas irradiam braços de areia. a sua cor personifica a ponte suspensa num pé de vinha. o edifício está decorado com obras de arte precária. os soluços da tinta jorram em carvão poluente. acredito ainda que a calma traga soluções.
pelo casco dos barcos passam várias marés, a cada segundo o tempo sofre alterações. aqui dentro a única diferença é o vinho.

lisboa, 16 nov 95
apetece-me rasgar pelo consciente. se isso ainda tem um lugar para atracar. as últimas folhas, comi-as entre arbustos e um orifício do sono lunar.
vem sempre alguém costurar o remendo do cérebro. mãos enxutas, costura cirúrgica que secará com a serenidade de quem acorda. amanhã o calendário será o mesmo.

excertos de
nuees relinquere
estilhaços de diário
escrito por m. parissy
non nova sed nove, nazaré janeiro 97

2 comentários:

  1. Anónimo30.12.10

    " Lament For The Death Of My Cock "

    isto só pode ser do Jim.Não é assim?

    " Lament for my cock
    Sore and crucified
    I seek to know you.
    [ ... ]

    Rafael

    ResponderEliminar
  2. correcto. o verso é de James Douglas Morrison. foi escolhido por nós para dar título a uma colecção de livros.

    ResponderEliminar