22 outubro 2010

A prostituta velha e suja

A prostituta velha e suja
despe-se à frente do polícia.
A estátua branca cai do pedestal.
O tempo escorre pelas ruas
da cidade, grosso e sereno.
A prostituta, cada vez mais velha,
esmaga o polícia entre as pernas.
No céu, voa um balão com
a forma da lua que
se arrasta vagarosamente,
sem olhar para baixo.
A prostituta amada e não-amada
toma um duche rápido.
O sol cresce em direcção
às gentes que correm nas avenidas.
A estátua branca, desfeita
no chão, chora.
O tempo escorre pelas ruas
da cidade, cada vez mais grosso e sereno.
A prostituta velha e zangada
é a pessoa mais feliz do mundo.


José Luís Peixoto
in non nova sed nove, nº7, dezembro 95

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