03 outubro 2010

os primeiros sete caminhos foram publicados na revistazine e neste livro foram acrescentados por mais dois poemas, assim como um outro conjunto de poemas sem título:

eu li pcd
anos depois

dos abutres das janelas

obrigaram-me a dizer notícias
e a proferir discursos
fotocópias de um qualquer
correspondente literário

os olhos dissolutos
no útero de um peixe
a vida rasgou trevas


*
no verão de oitenta e sete
o mercúrio desceu
no espírito da terra

continuavas o teu filme
onde havia tigres
a matar pela sobrevivência
um fascínio das figuras
chamava as crianças

eu fui um animal agonizante


*
pelas festas criava romances
a cidade adormecia
roubava-me o fogo
lambendo a areia

imaginas o sémen
no coração da praia

por vezes
surgiam crianças temerárias
dentro do sonho inerte

rimbaud numa boda
seria o mesmo

*
na madrugada de vinte seis de setembro
vi nascer um monstro
media sete metros de altura
e uivava

alto azul
corpo em correntes de algas
monstro hipnótico sem mãos
não acordou a cidade

o teu movimento deu-se em lentas explosões
rolaram as parcas flores
sobre o manto de areia

*
a partir do teu silêncio mórbido
senti cravar uma espada
no ceptro da água

fugimos de barco
em direcção às estrelas

*
eis a narração:

cedi aos teus desejos
tal como às páginas da tua odisseia
necrose em coluna de jornal

dissimulávamos as fendas do céu
tínhamos hipóteses rápidas de não ser

da neurose
nas horas intactas
o adverso

neste barco vazio
resta-me o encontro
com a luz da maré cheia

caminhos
de m. parissy
non nova sed nove, nazaré maio 1995

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