16 agosto 2010

dois poemas
por José Luís Peixoto

Em troco nú, convida-me
a entrar. Deita-se no chão,
de porta fechada. Esquece-se
das ruas e das facas encharcadas.
As suas entranhas sujas,
ouvem vozes que lhes falam
desde muito longe.
Concorre em melancolia ofuscada

à doce solução. Estatela-se
no chão. De porta aberta.
Em tronco nú.

******

O teu pai, o meu padrasto,
enlouquecido completa-se.
Entre duas existências
redondas e aveludadas
liberta o elogio ocre
da morte.
Extenuado levantas-te
e agrides e agradeço-te.
O teu pai, o meu padrasto,
demente sem o dizer,
recorta-nos  a vida
que não sabemos
se existe.

José Luís Peixoto
in
non nova sed nove nº 4, setembro 92

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