Ás vezes é como se alguém levantasse o pano e todos os outros personagens fugissem e fosse eu que tivesse de preencher o vazio por eles deixado, a plateia se transformasse no juiz vingador, no carrasco que se refugiou no tempo e agora retorna sequioso de sangue, e eu me transformasse numa criança e me deitasse de barriga para baixo, à espera que um homem bom, de grandes barbas brancas, viesse e baixasse o pano.
Quando de novo o pano subisse, a plateia aplaudisse enquanto desapareceria aos poucos.
Ás vezes é como se fosse uma estátua e ninguém soubesse o porquê da sua existência.
Ricardo Bordalo
in Granitos e outras memórias, non nova sed nove, 1992
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